2021
maio
06
Direito

Artigo | Se não faz bem aos olhos, por que faria ao estômago?

Uma análise sobre a palestra ministrada por Gary Yourofsky, na Universidade George Tech (EUA), no ano de 2010, intitulada como “A palestra mais importante que você vai ver”.

Trate os outros como gostaria de ser tratado; não matarás: esses são alguns dos mandamentos de cunho religioso que influenciam a vida de milhões de seres humanos. No entanto, quando a morte ou o sofrimento é de outra espécie, tais normas mandamentais ainda devem ser observadas?

É com tal questionamento que a palestra de Yourofsky ganha impulso para adentrar seu mérito: os impactos negativos do consumo de produtos de origem animal por um comportamento que não guarda relação com nossa necessidade fisiológica, mas com hábito, tradição, praticidade e gosto. Com isso, ao final, ele pretende reconectar os ouvintes com os animais, fazendo-os cientes, quando não convencidos da precariedade do consumo da carne para a saúde do planeta e nossa, das atrocidades que acontecem para que o alimento – de origem animal – chegue às suas mesas.

Os desdobramentos negativos do consumo de produtos de origem animal vão da saúde do ser humano ao aquecimento global, passando por campos silenciosos e pouco evidentes, como a fome mundial. Na palestra de Gary é citado que sociedades vegetarianas têm menor propensão a desenvolver câncer, osteoporose, doenças cardiovasculares, diabetes e hipertensão, isso porque a carne, ovos e leites são ricos em gorduras saturadas, que aumentam os riscos dessas doenças. Vê-se, ainda, uma curiosidade: a cada intervalo comercial que incita o consumo de carne, há, geralmente, outro que sugere suplementos, remédios e médicos para tratar problemas de saúde. Levantando, assim, uma correlação entre esses mercados.

Outrossim, ainda sobre os malefícios da indústria da carne, o que mais se destaca, após o sofrimento animal, que pretendo tratar logo mais, é a destruição do nosso planeta. Trazendo à baila brevemente o documentário Cowspiracy, para enriquecer este texto, verifica-se que a indústria bovina produz mais gases de efeito estufa do que a indústria de carros, aviões, etc. Em outras palavras, a agropecuária é responsável por mais de 51% da mudança climática do nosso planeta.

No documentário referido acima, a diretora do programa Amazon Watch cita que em 10 anos, contando desde 2014, a Floresta Amazônica pode desaparecer, sendo a principal responsável a indústria agropecuária, que do território desmatado do maior bioma deste planeta, é responsável, hoje, na proporção de aproximadamente 91%.

Aprofundando-se um pouco mais no documentário, o que ajuda a explorar os ensinamentos de Gary, nota-se que o mais assustador é que não existe nenhuma campanha publicitária ou forças, mesmo dos ativistas ambientais, que alertem a população mundial a reduzir o consumo de carne. E a justificativa pode  ser uma, ou melhor, duas: o assunto é sensível e perigoso. A título de exemplo, ainda utilizando-se das informações passadas pela diretora da Amazon Watch, no Brasil, ativistas ambientais são assassinados ao tratar o problema com empresários agropecuários. Conta-se aqui o caso da Freira Dorothy Stang, que vivia no coração da floresta tropical brasileira, e era ferrenha defensora da mata contra investidas da indústria agropecuária, mas que foi brutalmente assassinada por um mercenário contratado pela indústria do gado.

Por fim, destaca-se algo que duas vezes é mostrado na palestra: a tortura dentro dos abatedouros, que para Gary e muitos outros, é um holocausto.

Falar sobre o sofrimento animal é a chave para concluir as razões de se assumir uma postura ética em ralação às suas vidas, o que permite retomar as normas mandamentais citadas no primeiro parágrafo deste texto, e que possibilitou a Gary formular mais algumas perguntas: “A escravidão é exclusividade da raça humana? Existe, de fato, abate humanitário? Se sim, então pode existir estupro humanitário? Abuso humanitário?”.

Tais questionamentos possibilitam concluir que quando você não é a vítima, fica muito mais fácil justificar a crueldade, que, neste caso, guarda estreita relação com o especismo, isto é, o ponto de vista antiético e duvidoso de que a espécie humana tem o direito de escravizar e assassinar outra espécie.

Acrescentando, por fim, que muito se desconhece dos efeitos negativos do consumo dos produtos de origem animal. Pessoas sequer sabem que o custo de água para produzir 13g de bife de hambúrguer equivale a 2500 litros. Outras, quando assistem as atrocidades dos abatedouros, viram seus rostos e expressam indignação. Logo, se não faz bem aos olhos, por que faria ao  estômago?

Por Yuri Lana, aluno do 10º período do curso de Direito do Unileste.

Publicado por Brenda Duarte

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