2010
nov
11

Professor do Unileste defende tese sobre discursos étnico-raciais no Brasil

Imagem: Prof. Antônio Honório, autor da pesquisa, e sua orientadora, Profa. Fúlvia Rosenberg Prof. Antônio Honório, autor da pesquisa, e sua orientadora, Profa. Fúlvia Rosenberg Procurando contribuir para a compreensão e melhoria dos processos de identificação étnico-raciais, Antônio Honório Ferreira, professor do curso de Psicologia do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais (Unileste-MG), acaba de concluir sua tese de doutorado, que toma como objeto de estudo discursos étnico-raciais proferidos por candidatos ao Programa Internacional de Bolsas de Pós-graduação da Fundação Ford (IFP). Os resultados problematizam o uso do termo negro, bem como dão margem a uma extensa discussão sobre os conceitos cor/raça, aplicados à ampla diversidade sociocultural brasileira.

Para desenvolvimento do estudo, Honório baseou-se na análise de 169 Formulários para Candidatura do Programa IFP, nos quais foram examinados os discursos manifestados nos campos relacionados à autodeclaração de cor/raça, segundo os critérios do IBGE, e declaração de pertença racial (quando o candidato pode declarar-se negro ou não). Entre as respostas dadas, 42% sinalizaram cor/raça preta; 39,6% parda; e 18,3% branca.

De acordo com o pesquisador, tem sido recorrente nos estudos sobre desigualdade racial, inaugurados por Carlos Hasenbalg (1979), o recurso analítico de aglutinar pretos e pardos na categoria negro. No entanto, dada a diversidade de relatos raciais encontrada em seu material de pesquisa, Honório informa que esse recurso não pode ser utilizado.

“Do total da amostra, 62,1% dos candidatos declararam identificar-se como negros. Mas quando se soma aqueles que se autodeclaram pretos com aqueles que se autodeclaram pardos, encontramos 76,1%. Ou seja, nem todos os pretos e nem todos os pardos se declararam negros. Além disso, notou-se maior aproximação dos relatos dos candidatos brancos e pardos, do que entre esses últimos e os de candidatos pretos. Os relatos dos candidatos pretos, muitas vezes, se aproximam dos relatos dos candidatos que se declararam negros”, explica o pesquisador.

Na visão do professor Honório, os índices apurados revelam a diversidade racial que povoa o país. “O que se conclui é que não há um modo único de ser negro no Brasil, principalmente porque a raça não é uma questão biológica, mas sim uma construção social. Por isso, a identificação racial pode variar de acordo com o contexto em que acontece a interação. O pardo que se declarou negro nesse formulário também se declararia negro em outras situações? Tal indagação também pode ser feita para brancos, pretos e indígenas, sem distinção”, ressalta.

Aparência x origem
De acordo com o professor Honório, outro importante aspecto levantado pela pesquisa diz respeito à análise das justificativas apresentadas pelos candidatos sobre sua autodeclaração racial. Segundo ampla literatura sobre relações raciais, no Brasil a classificação cor/raça se dá através da aparência. Contrariando esta premissa, a maioria das pessoas que se consideraram pretas ou pardas no formulário justificaram sua autodeclaração de cor/raça por meio da origem, ou seja, de sua procedência familiar.

“A identificação por origem é uma questão nova no contexto da sociedade brasileira e que, em vista disso, merece ser estudada de forma mais aprofundada. Tradicionalmente, tem-se sustentado que a identificação e também o preconceito acontecem no país por ‘marca’, isto é, por meio da observação das características físicas dos indivíduos, diferentemente do que ocorreria nos Estados Unidos da América, onde se atribui um processo de identificação e de preconceito por ‘origem’, completa Honório.

Entre aqueles que se autodeclararam brancos, a justificativa mais apresentada diz respeito a informações constantes em documentos pessoais (33,3%), seguida da aparência (27,3%), correspondendo à origem o menor número de respostas (21,2%). “É possível que as justificativas, neste caso, tenham se manifestado de forma distinta dos pretos e dos pardos porque o branco não se considera como pertencente a uma raça, sendo este conceito popularmente aplicado somente aos demais grupos”, declara o pesquisador.

A tese de doutorado desenvolvida pelo professor Antônio Honório Ferreira foi apresentada recentemente ao Programa de Pós-graduação em Psicologia Social da PUC de São Paulo, e contou com a orientação da professora doutora Fúlvia Rosenberg. A pesquisa foi avaliada por uma banca examinadora e aprovada com nota máxima.

Publicado por Tiago Mendes

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